sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um Natal sem Presentes




Estive refletindo sobre o que torna o Natal uma
época tão importante em nossa vida. Tenho idade
suficiente para lembrar-me de muitos Natais. Todos
foram maravilhosos. Mas aprendi que não são apenas
os presentes que os tornam especiais.

O NATAL MAIS FELIZ DE MINHA INFÂNCIA
Quando eu era menino, nossa família era extremamente pobre. Meu pai não tinha emprego porque estava cursando a faculdade de direito na Universidade de Utah. Ele tinha mulher e três filhos. Meu avô e minha avó sabiam que não teríamos Natal se não fôssemos até a fazenda deles no condado de Millard. Portanto, toda a nossa família tomou o trem, saindo de Salt Lake, para Leamington, Utah. Nunca saberei de onde saiu o dinheiro das passagens.
Meu avô e meu tio Esdras foram encontrar-se conosco
na encruzilhada da ferrovia, em Leamington, com um
trenó aberto puxado por grandes cavalos, para levar-nos pela neve alta até Oak City. Fazia muito frio, e os cavalos estavam com o pelo do queixo coberto de gelo e soltavam grandes baforadas de vapor. Lembro-me de como o ar gelado fez meu nariz doer, ficando difícil até para respirar.
Minha avó tinha aquecido algumas pedras e as colocado no fundo do trenó para ajudar a manter-nos aquecidos.
Estávamos enrolados em pesados acolchoados de viagem, apenas com o nariz de fora. Com o acompanhamento dos sininhos atados por correias de couro aos arreios dos cavalos, viajamos musicalmente pelas dez milhas (dezesseis quilômetros) que separavam Leamington de Oak City, onde moravam nossos queridos avós. Havia tantos entes
queridos ali reunidos, que mal podíamos esperar pela
chegada. Quando chegamos, encontramos um lugar cálido, maravilhoso e emocionante.
No canto da sala de estar estava a árvore de Natal: um cedro cortado das pastagens da encosta das montanhas.
Já estava parcialmente decorada pela Mãe Natureza com pequenos frutinhos que ajudavam a perfumar o ambiente.
Nossa decoração era feita de pipocas unidas em cordões com agulha e linha. Os cordões tinham que ser manuseados cuidadosamente, caso contrário rompiam-se e espalhavam pipoca por todo o chão.
Também tínhamos correntes de papel para colocar na
árvore, feitas com recortes de catálogos da Sears e da
Montgomery Ward, colados com pasta de farinha. Ficávamos com as mãos, a face e as roupas cheias de restos daquela pasta grudenta. Eu ficava me perguntando por que não colocavam açúcar nela! Com um pouco de creme poderia ter sido servida como mingau.
Não me lembro de nenhum presente embaixo da árvore.
Ali havia bolas de pipoca feitas com um forte melado
caseiro. Quando mordíamos as bolas de pipocas, elas deixavam um forte gosto na boca.
Na véspera de Natal, reuníamo-nos em volta do fogão,
desfrutando o gostoso calor do fogo e o agradável
aroma da madeira de cedro queimada. Um de nossos tios fez a primeira oração. Cantamos hinos e canções de Natal. Uma de nossas tias leu sobre o nascimento de Jesus e “as novas de grande alegria”. (Lucas 2:10) “Pois na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor.” (Lucas 2:11) Nossos avós então nos disseram o quanto nos amavam.
O dia seguinte era Natal e tivemos um jantar delicioso.
Mas antes de comer, ajoelhamo-nos todos para a oração familiar. Eu estava com muita fome. Meu avô orou por muito tempo. Como podem imaginar, ele tinha muito pelo que orar. Ele orou pedindo chuva, porque havia uma seca na região e as colheitas tinham sido pequenas.
As sementes tinham sido plantadas no outono em solo
ressecado. E o pouco que fora colhido não podia ser vendido muito caro devido a baixa de preços causada pela Grande Depressão. Os impostos da fazenda estavam atrasados porque não havia dinheiro para pagá-los. Ele também orou por nossa grande família, por seus rebanhos, cavalos, porcos, galinhas e perus — ele orou por tudo.
Durante a longa oração do meu vovô, meu tio mais
novo ficou impaciente e deu-me um beliscão irreverente,
esperando que eu gritasse para tornar as coisas mais interessantes.
No jantar, foi-nos servido um imenso peru com um recheio delicioso. Não havia aipo no recheio porque só
contávamos com os ingredientes que podiam ser produzidos
na fazenda. Mas o recheio tinha bastante pão, salvia,
salsicha e cebolas. Havia grande quantidade de
batatas, molho, picles, beterrabas, feijões e milho. Como o meu avô trocava trigo por farinha com o moleiro, sempre havia pão recém-saído do forno. Para que a comida rendesse mais, tínhamos que dar uma mordida no pão para cada bocado de outro tipo de alimento. Tínhamos gelatina de cerejas silvestres e geléia de frutinhas silvestres.
Como sobremesa, foi servida uma torta de abóbora e groselha.
Tudo estava delicioso.

DAR E RECEBER PRESENTES
Ao recordar aquele Natal especial ocorrido há tanto
tempo, a parte mais memorável foi que não pensávamos em presentes. Às vezes ganhávamos luvas feitas em casa ou um xale, mas não me lembro de nenhum presente.
Os presentes são maravilhosos, mas descobri que não são essenciais à nossa felicidade. Eu não poderia ter-me sentido mais feliz. Não havia presentes que pudéssemos segurar nas mãos, acariciar ou brincar com eles, mas havia muitas dádivas maravilhosas que não víamos, mas podíamos sentir.
(....)DÁDIVAS VERDADEIRAS
Portanto, quando ajudamos os doentes e vestimos os
nus e auxiliamos ao estrangeiro, estamos dando dádivas pessoais ao nosso Salvador.
Entre essas dádivas verdadeiras estão algumas que
minha família compartilhou naquele Natal de minha infância que lhes contei: a dádiva da paz, a dádiva do
amor, a dádiva do serviço, a dádiva de nós mesmos e a dádiva da fé.
Mensagem completa em A Liahona dez 2001

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