sábado, 2 de outubro de 2010

Aprender a AMAR

                               

  Ninguém nasce odiado pela cor da pele, por sua origem
ou ainda por sua religião . Para odiar uma pessoa, precisamos aprender e, se podem
aprender aprender a odiar, podem ser ensinados a amar
Nélson Mandela
                          

Escolha



A sorte, para chegar até mim tem de passar pelas condições que o meu carácter lhe impõe.
Sébastien-Roch Chamfort

EU PRECISAVA DE UMA BENÇÃO





Brandon J. Miller
Estávamos no período chuvoso nas Filipinas e chovera o dia inteiro.
As tempestades sempre traziam criaturas
indesejáveis para dentro de nossa casa: aranhas, ratos e outros
animais.
Ao voltarmos para casa após um dia de proselitismo, eu e meu 
companheiro vimos a luz acesa na casa de nossos vizinhos e
resolvemos  visitálos. Antes, decidimos apanhar algumas fotografias 
de nossa família para mostrar para eles.
Guardávamos os retratos numa cômoda que ficava entre as duas
camas. Quando estendi o braço para pegar meu álbum, senti uma dor
súbita na mão direita. Ao abaixar os olhos, vi que acabara de ser picado
por uma cobra.
Gritei para meu companheiro, o élder Regis, que veio correndo ver o
que acontecera. Mostrei-lhe minha mão sangrando e disse que levara 
uma picada de cobra. Com o alvoroço, um vizinho veio até nossa casa e 
ajudou-nos a procurar a serpente. Achamo-la quando ela estava saindo 
debaixo da cama em direção a uma tábua que o élder Regis estava 
segurando.
O vizinho exclamou: “É uma naja filipina!”
O élder Regis matou a cobra.
Percebi que eu estava ficando tonto, assim corri para a casa do bispo
Rotor, que tinha certa experiência em tratar mordidas de cobras. Às
pressas, começou a fazer o que estava a seu alcance para ajudar-me.
Comecei a sentir um peso no peito, e a respiração tornou-se difícil.
Parecia haver uma nuvem negra pairando sobre minha mente, e
comecei a ficar inconsciente. Foi então que ouvi uma voz dizer: “Se
você quiser terminar sua missão na Terra, precisará de uma
bênção”. Ainda fiquei consciente o tempo suficiente para dizer: “Podem dar-me
uma bênção?”
O bispo respondeu: “Claro, deixe-me só terminar isto antes”. Foi difícil
continuar alerta, mas ouvi a voz, persistente: “Você precisa de uma
bênção agora. Não pode esperar”.Dessa vez, pedi com resolução
“Dêem-me uma bênção”.
Não recordo as palavras da bênção que meu companheiro e o
bispo Rotor me deram. Mas depositei toda a minha confiança no Senhor e
Seu sacerdócio. Durante a oração, comecei a recobrar os sentidos e
vomitei repetidas vezes. Quando ouvi as palavras finais da bênção, o
vômito cessou. Já estava consciente, e uma cálida sensação de alívio e
amor percorreu-me o corpo. Eu sabia que o Pai Celestial me amava e que
eu me restabeleceria.
Meu líder de zona, o élder Howarth, levou para a casa do bispo
um médico que estava pesquisando a Igreja. A essa altura, já se haviam
passado duas horas. Dirigimo-nos a um hospital situado a uma hora
de distância de nossa área de proselitismo.
A caminho do hospital, o médico
pediu que eu relatasse o que acontecera.
O élder Howarth perguntou:
“Doutor, será que não devemos ir mais rápido?” A resposta dele foi: “Por
quê? Ele já deveria estar morto. Ele é um homem de sorte”. A naja filipina é
o ofídio mais venenoso do país.
Se as pessoas dizem que Deus já não é um Deus de milagres é porque
não compreendem esse evangelho nem o amor Dele por nós, Seus filhos.
Sei que minha vida foi poupada e não apresento nenhuma seqüela devido
ao poder da palavra de Deus: “E, pelo poder de sua palavra fizeram com que
prisões ruíssem por terra”, escreveu Morôni, “sim, nem mesmo a fornalha
ardente lhes pôde fazer mal, nem animais selvagens nem serpentes
venenosas, por causa do poder de sua palavra”. (Mórmon 8:24)
Brandon J. Miller é membro da Ala Iona
II, Estaca Iona

A Liahona Sep 2001 

SER CORAJOSO





“Esforça-te e tem bom ânimo, e faze a obra.” 
(I Crônicas 28:20) 

CHARMAYNE GUBLER WARNOCK
 
Inspirado em experiência da vida da autora
O dia em que passei mal e vomitei na escola foi meu pior dia. Também foi o melhor. Foi quando a
Rosella se tornou minha melhor amiga. Eu estava com mal-estar e sentindo-me uma idiota, e ela simplesmente veio até mim, pegou algumas toalhas de papel e ajudou-me a limpar o chão.
Quando eu lhe disse que não precisava fazer aquilo, ela respondeu: “Ah, vou ser médica
quando crescer, e isso não me incomoda nem um pouco”. Depois das aulas, foi comigo até minha casa. Parecia que a Rosella nunca tinha medo de nada. Certa vez, tirou uma cobra não venenosa das mãos de uns meninos que a estavam maltratando. Levou a cobra para a casa dela,
onde poderia viver em paz entre os arbustos do quintal. Fiquei olhando a cobra com seus olhos redondos e negros e indagando-me se daria um bote para picar a Rosella. Mas ela não demonstrou a mínima preocupação.
Certo dia, a Rosella e eu estávamos sentadas lado a lado na aula de música. Estávamos ensaiando umas músicas para a apresentação de primavera quando o interfone tocou e o diretor chamou o professor de
música para a diretoria. O professor pediu aos alunos que se comportassem em sua ausência. Disse que voltaria logo, mas demorou bastante.
Alguns meninos da classe começaram a jogar papel amassado na lixeira do outro lado da sala. Em poucos minutos, o chão estava coberto de papel. Um dos que estavam jogando papel olhou para um menino chamado Alan e disse: “Alan, olhe a sujeira que você fez. É melhor catar esses papéis”.
O Alan não participara da brincadeira, mas não discutiu.
Simplesmente fez sim com a cabeça, levantou-se e começou a apanhar os papéis. Demorou bastante, pois pegou um por um. O Alan usava óculos tortos e seus cabelos pareciam tufos desalinhados. Devido a um problema no nascimento, não recebera oxigênio suficiente e por isso tinha dificuldade para aprender. Às
vezes, tropeçava ou errava as coisas, mas queria fazer amizade com todos e estava sempre sorridente.
Depois de catar toda a sujeira, o Alan voltou para sua carteira. Os outros meninos estavam todos rindo.
Quando Alan se virou para sentar-se, um deles estendeu o braço e puxou a cadeira. Alan foi ao chão. Que dor! Dava para ver que doeu, pois ele ficou com lágrimas nos olhos. Mas quando todos os meninos começaram a rir, Alan tentou fazer o mesmo.Logo em seguida, a Rosella levantou-se. Andou até o outro canto da sala, colocou-se na frente daqueles meninos e encarou-os. Então, estendeu a mão e ajudou Alan a sentar-se em sua cadeira. A classe inteira permaneceu em silêncio. Ela perguntou-lhe se estava machucado, e ele fez que não com a cabeça. Depois, ela pôs as mãos na cintura e disse aos meninos: “Ser cruel com as pessoas é uma forma muito covarde de tentar fazer graça”. Eles ficaram a olhar para ela. Ela não parecia brava nem irritada, mas todos sabiam que estava falando sério. Então, a Rosella virou-se e voltou para sua carteira. A classe estava em total silêncio.
Fiquei a imaginar o que os meninos fariam. Em geral, não gostavam de receber ordens nem reprimendas, principalmente de uma menina. Minha esperança era que o professor voltasse antes que algo mais acontecesse. Então, um dos meninos olhou para o Alan e disse: “Desculpe por termos puxado a cadeira”.
O Alan cruzou os braços e deu um grande sorriso. “Tudo bem. Tenho amigos.” Ele olhou na direção da Rosella.
Nesse momento, o professor entrou na sala. Ninguém disse nada sobre o ocorrido e a aula continuou como de costume.
Quando a Rosella pegou a partitura, vi que suas mãos tremiam, mas seu rosto estava sereno.
Reiniciamos o ensaio. Eu ouvia o som do piano e de meus colegas cantando, mas meus pensamentos voltaram-se para a Rosella. Fiquei pensando em como ela defendeu o Alan, embora provavelmente estivesse com medo. Olhei para a Rosella cantando a música e depois para o Alan. Então entendi que ser corajoso não significa não ter medo, mas fazer a coisa certa mesmo quando estamos com medo. ●
Charmayne Gubler Warnock é membro da Ala Alpine V,
Estaca Alpine Utah Oeste. A16
“É preciso coragem para defender as coisas em que acreditamos? Certamente. Será que vocês teriam coragem para isso? É claro que sim. Busquem força com o Pai Celestial.”
Ver Bispo H. David Burton, Bispo Presidente,
“Seja Grande”, A Liahona, janeiro de 2002, p. 76

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um Presente de Natal


No início da década de 1930, Margaret Kisilevich e sua irmã Nellie deram um presente de Natal a seus vizinhos, a família Kozicki, que ficou gravado em sua memória por toda a vida e se tornou fonte de inspiração para a família inteira.
Na época, Margaret e Nellie moravam em Two Hills, Alberta, Canadá — uma comunidade rural povoada principalmente por imigrantes ucranianos e poloneses, a maioria muito pobre e com família numerosa. Era a época da Grande Depressão.
A família de Margaret era formada por pai, mãe e 15 filhos. A mãe de Margaret era industriosa e seu pai, empreendedor — e com tantos filhos, tinham mão-de obra garantida em casa. Assim, a casa estava sempre aquecida e, apesar das condições humildes da família, nunca passaram fome. No verão, cultivavam uma horta enorme, faziam chucrute, queijo cottage, coalhada e picles a fim de fazerem trocas com os vizinhos. Também criavam galinhas, porcos e gado de corte. Tinham pouco dinheiro no bolso, mas podiam trocar essas mercadorias por outras
que não produziam.
A mãe de Margaret tinha amigos que tinham emigrado com ela do mesmo país. Esses conhecidos tinham um grande
armazém, que se tornou um verdadeiro mercado, em que as  pessoas da região doavam ou trocavam roupas e sapatos usados e outros objetos. Muitos desses artigos de segunda mão chegavam às mãos da família de Margaret.
Os invernos na província de Alberta eram muito frios, longos e penosos e, em certo inverno particularmente gelado e difícil, Margaret e sua irmã Nellie se deram conta da pobreza de seus vizinhos, a família Kozicki, cuja fazenda ficava
a alguns quilômetros de distância.
Sempre que o pai da família Kozicki levava os filhos à escola em seu trenó improvisado, ele entrava no prédio para se esquentar perto da estufa antes de voltar para casa.
Os calçados da família consistiam em trapos e sacos grosseiros cortados em faixas e enrolados em volta das pernas e pés, com enchimento de palha e amarrados com cordas.
Margaret e Nellie resolveram convidar a família Kozicki, por intermédio dos filhos, para a ceia de Natal. E decidiram não falar do convite a ninguém de sua própria família.
Chegou a manhã de Natal, e todos da família de
Margaret estavam ocupados com os preparativos para o
banquete do meio-dia. O enorme porco assado entrara no forno na noite anterior. O repolho, as rosquinhas, as tortas de ameixa e o ponche especial de açúcar queimado tinham sido preparados um pouco antes. O cardápio terminaria com chucrute, picles, verduras e legumes. Margaret e Nellie ficaram encarregadas de preparar as verduras
A Nae legumes, e a mãe não parava de perguntar por que estavam descascando tantas batatas, cenouras e beterrabas.
Sem responder, simplesmente continuaram o trabalho.
O pai foi o primeiro a ver uma parelha de cavalos e um trenó com treze pessoas que se encaminhavam para sua casa. Como adorava cavalos, os reconheceu de longe.
Perguntou à esposa: “Por que a família Kozicki está vindo para cá?” A resposta foi: “Não sei”.
Quando chegaram, o pai de Margaret ajudou o Sr. Kozicki a guardar os cavalos. A Sra. Kozicki abraçou a mãe de Margaret e agradeceu por convidá-los para o almoço de Natal. Todos entraram, e as festividades começaram.
Os adultos comeram primeiro e, depois de lavada a louça, foi a vez das crianças, que almoçaram em turnos.
Foi um banquete maravilhoso, ainda melhor por ter sido partilhado. Depois de se fartarem, todos cantaram juntos hinos de Natal e em seguida os adultos foram conversar.
A Caridade em Ação 
 Margaret e Nellie levaram as crianças dos vizinhos para o quarto e tiraram de debaixo das camas várias caixas cheias de roupas de segunda mão, doadas pelos comerciantes amigos de sua mãe. Formou-se uma alegre
confusão, com um desfile de moda improvisado e todos escolhendo as roupas e sapatos que queriam. As crianças fizeram tanto barulho que o pai de Margaret foi até lá para
ver do que se tratava. Ao ver a felicidade das filhas e a alegria das crianças da família Kozicki com as “novas” roupas, sorriu e disse: “Podem continuar”. Ainda no meio da tarde, antes de anoitecer e esfriar demais com o pôr-do-sol, a família de Margaret se despediu dos amigos, que foram embora bem alimentados, bem
vestidos e bem calçados. Margaret e Nellie nunca contaram a ninguém que
tinham convidado a família Kozicki, e o segredo perdurou até o Natal de 1988, quando Margaret Kisilevich Wright, aos 77 anos, revelou o segredo à família pela primeira vez.
Disse que tinha sido seu melhor Natal de todos os tempos.
Se quisermos ter o melhor Natal de todos os tempos, devemos ouvir o som das sandálias nos pés do Mestre.
Devemos dar a mão ao Carpinteiro. A cada passo que dermos em Seu rastro, deixaremos para trás uma dúvida e aprenderemos uma nova verdade.
Escreveu-se sobre Jesus de Nazaré que crescia “em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”. 7 Estamos determinados a fazer o mesmo? Uma
passagem das escrituras sagradas contém um tributo a nosso Senhor e Salvador, de quem se disse que “andou fazendo bem (…); porque Deus era com ele”.
Minha oração é que, neste Natal e em todos os Natais futuros, sigamos Seus passos. Assim, cada Natal será o melhor de todos.
 Liahona  dez 2008

quarta-feira, 29 de setembro de 2010