quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Nosso Primeiro Natal



ABRAHAM MENES SAGRERO

O Natal estava chegando, mas era evidente para nós
dois, recém-casados, que não teríamos dinheiro
para comprar uma árvore de Natal, enfeites, decoração
ou um bom jantar.
Tínhamos começado sem casa, sem emprego e com
pouquíssimo dinheiro. Mas Deus nos ajudou. Encontramos
um pequeno apartamento, e comecei a procurar emprego.
Como ainda não tinha terminado meus estudos, aceitei
vários empregos como vendedor. Minha renda era pequena,
somente o suficiente para pagar o aluguel e a comida. Saía
bem cedo de casa e às vezes tinha sucesso, às vezes, não.
Quando não conseguia vender, sentia-me derrotado, mas
minha mulher, que estava grávida, sempre me recebia
com um sorriso. Então, as dificuldades pareciam menos
desafiadoras.
No México, a véspera de Natal é até mais comemorada
que o próprio dia de Natal. Quando eu era solteiro, comemorávamos
comendo bacalhau e uma salada com rabanetes,
laranja e amendoim. Mas naquela véspera de Natal, não
sabíamos o que teríamos para o jantar. Sem recursos, tudo
o que tínhamos era só um pequeno fogão a gás, com
um botijão de gás emprestado. Não tínhamos
geladeira nem móveis na sala de estar ou na
sala de jantar, só uma pequena mesa de
madeira que minha avó me dera e algumas
cadeiras que ganháramos de
um amigo.
Quando pensei em nossa
situação, fiquei deprimido.
Mas, lembrando-me de que Deus nunca nos abandona,
humilhei-me como uma criança e busquei-O em oração.
Minha oração foi atendida. Senti paz no coração e
soube que tudo ficaria bem. Abri o porta-malas do meu
carro e encontrei num canto um pedaço de peixe defumado.
Lembrei que vários meses antes tinha ajudado meu
pai a transportar alguns peixes, e aquele pedaço devia ter
ficado ali. Graças ao sal, não tinha estragado.
Mostrei-o à minha mulher, e ela disse que o cozinharia.
Fomos comprar tomates e outros ingredientes. Lavamos o
peixe e o deixamos de molho para tirar o sal.
Naquela noite, à luz de uma pequena lâmpada, sentamo-
nos em volta de nossa pequena mesa de madeira
e lembramo-nos do nascimento de Cristo e de como Ele
havia nascido com ainda menos do que nós tínhamos.
Desfrutamos o mais delicioso jantar que já havíamos
saboreado e nos deitamos cedo. Na manhã seguinte,
ficamos na cama assistindo a filmes de Natal. Foi um dia
muito feliz. Em nossa pobreza, o espírito do Natal iluminou
o nosso pequeno lar e deu-nos esperança e coragem.
Em janeiro, nossa filha nasceu, trazendo ainda mais
alegria para nosso lar.
Muitos Natais se passaram desde aquele período, e já não
nos falta a decoração ou uma árvore de Natal ou o aroma de
pinheiros. Tivemos muitos jantares excelentes com pratos
deliciosos. Mas minha lembrança mais querida é a de nosso
primeiro Natal juntos. Foi o mais pobre, em termos materiais,
mas o mais rico em termos espirituais e eternos: só nós dois,
com nossa filha ainda por nascer e o espírito do Natal. ■

A Liahona dez 2006

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