quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Minha Amiga Linda “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35).

HEIDI RENOUF BRISCO
Inspirado numa história verídica

As pessoas raramente subiam o ladeirão para ir até minha
casa. O sorveteiro não se dava ao trabalho de subir uma
ladeira tão íngreme, o jornaleiro recusava-se a subir de 

bicicleta para entregar o jornal, e até meu cachorro nunca 
fugia, porque teria
que subir a ladeira para voltar para
casa! Mas, ao menos uma vez por
semana, Linda subia bufando, ofegante o ladeirão
para ir a minha casa.
Linda era uma senhora de certa idade, cheia de
corpo, de cabelos curtos, pretos e brancos, como sal e
pimenta. Algumas pessoas da vizinhança diziam que ela
era deficiente, mas minha mãe me dizia que era especial.
Por dentro, ela ainda era uma menina. Sempre que
Linda vinha-nos visitar, ela nos cumprimentava com um
forte abraço e um beijo no rosto. Não conseguíamos
ficar sem rir quando estava por perto.
Um dia, Linda subiu a ladeira toda alegre e entrou
correndo em casa. Ela nunca batia à porta nem tocava
a campainha; apenas entrava e dizia: “A Linda chegou!”
Naquele dia, ela estava tão entusiasmada que agarrou
meu irmão Roy e dançou com ele pela sala, exclamando:
“Fui convidada para o Baile de Inverno! A Linda
foi convidada para o baile!”
O Baile de Inverno era um baile muito elegante para
as pessoas que freqüentavam a escola de Linda. Ela
estava tão empolgada para usar traje a rigor que não
falava de outra coisa. “Quero usar um
vestido vermelho, grande e bufante,
brilho no cabelo e sapatos vermelhos
brilhantes”, disse ela. “Quero
usar rosas no cabelo também. Você
gosta de vermelho, Cátia?”
“Eu gosto de vermelho, mas prefiro
rosa”, respondi sinceramente.
“Eu prefiro vermelho. Sempre quis
usar um vestido vermelho maravilhoso
e ficar bem elegante.”
Mamãe ofereceu-se para costurar o vestido dos
sonhos da Linda. Compramos um par de sapatos na
ponta de estoque e colamos glitter neles para que brilhassem.
Toda vez que Linda experimentava o vestido
e os sapatos, chorava ao ter que tirá-los. Ela gostava de
ficar tão linda por fora quanto era por dentro.
Finalmente chegou o dia do Baile de Inverno. Era um
dia de aula normal para mim, mas eu estava entusiasmada
com a grande festa de Linda. Na hora do lanche,
sentei-me do lado de fora com minhas amigas. A distância,
ouvi alguém gritar meu nome. “Cátia! Cátia! Minha
melhor amiga! Olhe para mim, Cátia! Estou tão bonita!
Olha o meu lindo vestido, bufante e brilhante. Olha a
sua amiga Linda! Estou toda elegante. A Linda está bem
aqui. Olha só, Cátia!”
Vi Linda acenando do outro lado da rua, toda arrumada.
Ia acenar para ela, mas reparei na expressão das
minhas amigas. Elas pareciam surpresas.
“Você conhece aquela mulher esquisita?” Perguntou
Natália. “Ela anda pelo bairro inteiro. Minha mãe diz que
ela é maluca.”
Balbuciei uma resposta qualquer.
Então Kelly acrescentou: “Eu sempre vejo essa
mulher andando aí pelo bairro também. Olha o vestido
dela, que horroroso! Ela está tão engraçada!” Todas
começaram a rir.
Natália deu um sorriso de desdém e perguntou:
“Então você conhece essa maluca? Ela é sua melhor
amiga ou coisa parecida? Como é que ela sabe o seu
nome?”
Do outro lado, Linda ainda me acenava, mas
tinha parado de gritar.
Percebi que ela ficou triste porque eu não acenei para
ela. Fiquei sentada em silêncio por um instante. “É (...)
Acho que ela sabe o meu nome porque passa pela
minha casa e ouve a minha mãe me chamar”, disse eu,
mentindo. “É claro que não a conheço”.
Kelly, Natália e as outras meninas pareceram aliviadas
e continuaram a zombar dela. Senti-me horrível. Não tive coragem de olhar para Linda do outro lado da rua.
Nem consegui acabar de almoçar; não consegui
mais falar. Sabia que tinha feito algo errado.
Quando me batizei no ano anterior, prometi tentar
ser como Jesus Cristo, e o Espírito Santo estava me
dizendo agora que eu tinha quebrado essa promessa.
Jesus amava Linda e nunca a trataria dessa maneira, e Ele
me amava e jamais iria querer que eu agisse dessa forma.
Quando as meninas começaram a guardar as coisas
do lanche, eu levantei. “Espera! Eu sou amiga daquela
mulher”, exclamei subitamente. “O nome dela é Linda,
e ela é amiga da minha família. Não a tratem mal. Ela é
especial e nós a amamos”. Algumas das garotas deram
um risinho disfarçado, mas outras disseram que também
tinham amigas especiais como Linda.
Linda estava sentada no meio fio, cabisbaixa, olhando
para os seus sapatos brilhantes. Agora era a minha vez de
gritar e acenar. “Linda, Linda, minha melhor amiga. Olha
para mim! Você está tão linda! Está uma dama muito elegante,
Linda! Olha só o seu vestido lindo, bufante e brilhante!
Olha para a sua amiga. Estou bem aqui!”
Linda levantou a cabeça, sorriu e acenou. Quanto
mais eu acenava e gritava, mais ela acenava e sorria.
Logo nós duas estávamos pulando, acenando, jogando
beijos e sorrindo. Tínhamos chamado a atenção de
todos os alunos que estavam lá fora, e eles ouviram-me
dizer que Linda era minha amiga.
A Linda se divertiu muito no Baile de Inverno.
Ela estava mesmo muito
elegante! Minha mãe e eu
nos oferecemos para servir
o ponche no baile, para
poder vê-la se divertir.
Depois do baile,
mamãe, Linda e eu subimos
o ladeirão até a minha
casa. Pedi desculpas a
Linda por ter demorado a
acenar para ela. Ela parecia
nem se lembrar daquilo, e
eu pensei na minha sorte
em ter uma amiga que
perdoava tão facilmente.
Nossa caminhada até
minha casa foi ótima, só
minhas melhores amigas e eu. De algum
modo, com as duas ao meu lado, nem foi tão difícil
assim subir o ladeirão da minha casa. ●
Heidi Renouf Brisco é membro da Ala Woodland Park, Estaca Los
Altos da Califórnia.A16
    “[Algumas pessoas] podem parecer diferentes                                     
mover-se de um modo estranho e falar com dificuldade,
mas têm os mesmos sentimentos que qualquer
outra pessoa. (...) Elas querem ser amadas
pelo que são.”
Presidente James E. Faust, Segundo Conselheiro na
Primeira Presidência, “The Works of God”, Ensign,
novembro de 1984, p. 59.

Nenhum comentário:

Postar um comentário