sábado, 2 de outubro de 2010

SER CORAJOSO





“Esforça-te e tem bom ânimo, e faze a obra.” 
(I Crônicas 28:20) 

CHARMAYNE GUBLER WARNOCK
 
Inspirado em experiência da vida da autora
O dia em que passei mal e vomitei na escola foi meu pior dia. Também foi o melhor. Foi quando a
Rosella se tornou minha melhor amiga. Eu estava com mal-estar e sentindo-me uma idiota, e ela simplesmente veio até mim, pegou algumas toalhas de papel e ajudou-me a limpar o chão.
Quando eu lhe disse que não precisava fazer aquilo, ela respondeu: “Ah, vou ser médica
quando crescer, e isso não me incomoda nem um pouco”. Depois das aulas, foi comigo até minha casa. Parecia que a Rosella nunca tinha medo de nada. Certa vez, tirou uma cobra não venenosa das mãos de uns meninos que a estavam maltratando. Levou a cobra para a casa dela,
onde poderia viver em paz entre os arbustos do quintal. Fiquei olhando a cobra com seus olhos redondos e negros e indagando-me se daria um bote para picar a Rosella. Mas ela não demonstrou a mínima preocupação.
Certo dia, a Rosella e eu estávamos sentadas lado a lado na aula de música. Estávamos ensaiando umas músicas para a apresentação de primavera quando o interfone tocou e o diretor chamou o professor de
música para a diretoria. O professor pediu aos alunos que se comportassem em sua ausência. Disse que voltaria logo, mas demorou bastante.
Alguns meninos da classe começaram a jogar papel amassado na lixeira do outro lado da sala. Em poucos minutos, o chão estava coberto de papel. Um dos que estavam jogando papel olhou para um menino chamado Alan e disse: “Alan, olhe a sujeira que você fez. É melhor catar esses papéis”.
O Alan não participara da brincadeira, mas não discutiu.
Simplesmente fez sim com a cabeça, levantou-se e começou a apanhar os papéis. Demorou bastante, pois pegou um por um. O Alan usava óculos tortos e seus cabelos pareciam tufos desalinhados. Devido a um problema no nascimento, não recebera oxigênio suficiente e por isso tinha dificuldade para aprender. Às
vezes, tropeçava ou errava as coisas, mas queria fazer amizade com todos e estava sempre sorridente.
Depois de catar toda a sujeira, o Alan voltou para sua carteira. Os outros meninos estavam todos rindo.
Quando Alan se virou para sentar-se, um deles estendeu o braço e puxou a cadeira. Alan foi ao chão. Que dor! Dava para ver que doeu, pois ele ficou com lágrimas nos olhos. Mas quando todos os meninos começaram a rir, Alan tentou fazer o mesmo.Logo em seguida, a Rosella levantou-se. Andou até o outro canto da sala, colocou-se na frente daqueles meninos e encarou-os. Então, estendeu a mão e ajudou Alan a sentar-se em sua cadeira. A classe inteira permaneceu em silêncio. Ela perguntou-lhe se estava machucado, e ele fez que não com a cabeça. Depois, ela pôs as mãos na cintura e disse aos meninos: “Ser cruel com as pessoas é uma forma muito covarde de tentar fazer graça”. Eles ficaram a olhar para ela. Ela não parecia brava nem irritada, mas todos sabiam que estava falando sério. Então, a Rosella virou-se e voltou para sua carteira. A classe estava em total silêncio.
Fiquei a imaginar o que os meninos fariam. Em geral, não gostavam de receber ordens nem reprimendas, principalmente de uma menina. Minha esperança era que o professor voltasse antes que algo mais acontecesse. Então, um dos meninos olhou para o Alan e disse: “Desculpe por termos puxado a cadeira”.
O Alan cruzou os braços e deu um grande sorriso. “Tudo bem. Tenho amigos.” Ele olhou na direção da Rosella.
Nesse momento, o professor entrou na sala. Ninguém disse nada sobre o ocorrido e a aula continuou como de costume.
Quando a Rosella pegou a partitura, vi que suas mãos tremiam, mas seu rosto estava sereno.
Reiniciamos o ensaio. Eu ouvia o som do piano e de meus colegas cantando, mas meus pensamentos voltaram-se para a Rosella. Fiquei pensando em como ela defendeu o Alan, embora provavelmente estivesse com medo. Olhei para a Rosella cantando a música e depois para o Alan. Então entendi que ser corajoso não significa não ter medo, mas fazer a coisa certa mesmo quando estamos com medo. ●
Charmayne Gubler Warnock é membro da Ala Alpine V,
Estaca Alpine Utah Oeste. A16
“É preciso coragem para defender as coisas em que acreditamos? Certamente. Será que vocês teriam coragem para isso? É claro que sim. Busquem força com o Pai Celestial.”
Ver Bispo H. David Burton, Bispo Presidente,
“Seja Grande”, A Liahona, janeiro de 2002, p. 76

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